domingo, 15 de abril de 2012

Virtual > real :(

O que faz alguém priorizar o mundo virtual ao real? Embora alguns me vejam quase como um extraterrestre por fazer essa pergunta (que já traz, em si, a minha opinião sobre o tema), tenho percebido que não estou só nessa indagação, ou neste mundo real.

No último dia 14 de março, muito me identifiquei com o filósofo Sérgio Peixoto Mendes - que não faço ideia de quem seja. Ele publicou na Zero Hora um artigo chamado "O virtual mundo real". Nele, ele escreveu que nos dias atuais, não basta ter amigos, é preciso ter seguidores, que os amigos virtuais passaram a ter prioridade em relação aos amigos reais e que almoçar sozinho ou almoçar com alguém que tenha um iPhone ou um netbook é a mesma coisa. Verdade.

Dia desses, presenciei uma cena surreal, que reflete bem essa realidade doentia que estamos vivendo. Em um shopping de Porto Alegre, dez amigas almoçavam juntas. Mas, em vez do barulho das conversas e risadas, comuns em uma mesa feminina, silêncio. Só o que se ouvia era o som das teclas dos seus celulares. Pouco depois, fui passar o fim de semana na casa de uma amiga na praia. Há tempos que ela insistia para que fôssemos passar uns dias lá. Mas nem presença dos amigos reais, nem a falta de bateria foi capaz de afastá-la do mundo virtual.

Também me senti menos só neste mundo ao ver "Medianeras - Buenos Aires na era do amor digital". Não apenas pela protagonista do filme se chamar Mariana, mas, principalmente, por ele contar a história de duas pessoas conectadas ao mundo, mas solitárias nele. A certa altura, minha xará faz esta belíssima citação:

- Tantos quilômetros de cabos servem para nos unir ou para nos manter afastados, cada um no seu lugar? O futuro está na fibra ótica, dizem os visionários. Do trabalho, você vai poder aumentar a temperatura na sua casa. Claro, ninguém vai esperar você com a casa quentinha!

Em outro momento do filme, o outro protagonista, Martin, que trabalha montando sites, confessa: a internet me aproximou do mundo, mas me distanciou da vida.

Talvez, como no filme, seja preciso ficarmos sem energia - e, aqui, falo nos diferentes sentidos da palavra - para nos darmos conta de que o mais importante ainda está aqui, no mundo real.

Meia maratona carioca

Costumo dizer que a melhor forma de conhecer um lugar é caminhando por ele. Batendo perna e, de preferência, batendo um bom papo também. Pois esta é a história do dia em que percorri, conversando – e, por isso, sem perceber –, quase 21 quilômetros pelo Rio de Janeiro.

Nove de março de 2009, uma segunda-feira. Eu e duas amigas passávamos férias na cidade maravilhosa – duas de nós pela primeira vez. Dividíamos um apartamento entre o Leme e Copacabana. O plano para aquele dia era ir a pé até o Forte de Copacabana, uma boa maneira de conhecer a orla do bairro, e curtir o pôr do sol na Confeitaria Colombo do forte. Como a ideia era ir aos pouquinhos, parando para uma foto aqui, uma água de coco ali, chinelos e vestidos, bem ao estilo carioca. Só que, depois de percorrermos toda a extensão da Avenida Atlântica, debaixo de um sol de mais de 30 graus, descobrimos que o forte não abria às segundas-feiras.

Plano B: ir até o Arpoador, no comecinho de Ipanema, descansar um pouco e almoçar em algum restaurante do bairro. Depois de uma breve parada para apreciar a vista, tirar fotos e recuperar o fôlego, seguimos caminhada, em busca de algum lugar para comer. Lá se foram mais alguns quilômetros na orla de Ipanema. Muitas quadras e vários restaurantes depois, sentamos para almoçar no tradicional Botequim Informal.

A conta chegou às dezesseis horas. Tarde para ir à praia, cedo para voltar para casa. Sabíamos que a Lagoa Rodrigo de Freitas não ficava muito longe dali. Então, lá fomos nós.

Quanto mais nos aproximávamos, mais queríamos conhecer cada cantinho daquele lugar. E foi isso que decidimos fazer. De bicicleta. Em menos de 60 minutos – pois o aluguel é cobrado por hora e custa caro – contornamos a lagoa. De chinelos, vestidos e bolsas. Traje nada recomendado para uma pedalada.

Quando o cansaço realmente bateu, depois de percorrermos os 7,5 quilômetros da Lagoa Rodrigo de Freitas, os 3,5 quilômetros da orla de Ipanema e os 4 quilômetros da orla de Copacabana – sem contar os desvios para chegar ao Arpoador e achar um restaurante –, descobrimos que o ponto de ônibus mais próximo era bem distante dali. Fizeram as contas? Nas minhas, quase 21 quilômetros.

Também fomos ao Rio conhecer a agitação noturna, os bares e as danceterias. Mas, nessa noite, depois dessa meia maratona, ficar no apartamento que alugamos nos pareceu o melhor programa. Ainda não sabíamos, mas no dia seguinte o centro histórico, a Lapa e o bairro de Santa Tereza, com seus atrativos (alguns fechados) e bondinhos (só descobertos depois de muita lomba subida), nos aguardavam. Mas essa é uma outra história.

* Texto publicado na coluna Histórias de Viagem, do jornal Zero Hora de 13/03/2012.

sábado, 16 de maio de 2009

Anjos e Demônios... pro inferno!

Dizem que, em time que está ganhando, não se mexe - e você nem precisa entender de esporte para acompanhar a metáfora, certo? Concordo com o ditado, mas penso que, se for para corrigir uma falha ou melhorar algum aspecto, se mexe sim! Só não entendo aquelas mudanças em que se troca seis por meia dúzia.

Fiz questão de assistir à estreia do filme Anjos e Demônios - e raras vezes saí tão decepcionada do cinema. O livro de Dan Brown é daqueles que não se lê, se devora! Que se conta as horas para chegar em casa e degustar mais um capítulo. Um não, vários (é impossível ler só um por vez)! Na reta final, dormi tarde todas as noites e acordei cedo todos os dias para ler o máximo que podia. E esperei ansiosa, nervosa, por vê-lo contado na telona - como uma criança que, quando gosta de uma história, quer ouví-la várias vezes, contada por pai, mãe e quem mais estiver disponível.

No entanto, ao escurecerem as luzes da sala 4 do GNC Iguatemi, só pude perceber mudanças e mais mudanças. Nomes, cargos, parentestos diferentes, que em nada contribuem para o filme e muito confundem a cabeça dos amantes do livro. Vi personagens perderem a força e o brilho que tinham nas páginas que li e outros simplesmente sumirem, evaporarem, desaparecerem. Um dos principais embates do livro se dá entre um personagem que, à primeira vista, representa "o anjo" e outro que logo indentificamos como "o demônio", papéis que se invertem, enriquecendo a narrativa. Mas o que dizer quando um deles é ignorado no filme?!

Assim como essa (importante) dualidade entre os personagens, a dualidade de idéias também se perde no caminho entre as páginas impressas e as cenas reproduzidas. No livro, as razões de cada personagem são expostas de maneira que entendemos suas crenças, seus atos, suas verdades, mesmo quando não concordamos com elas. No filme, ou se é bom ou se é ruim, não há complexidade, conflito, dualidade - palavra tão explorada e citada no livro!

A você, caro leitor, sugiro que leia o livro (antes de ver o filme). Se você quiser mergulhar numa aventura excitante, cheia de reviravolas, debates éticos, dados históricos, noções de física etc, siga meu conselho. Caso contrário, escolha uma boa companhia com quem compartilhar a pipoca, o refri e nada mais.

terça-feira, 24 de março de 2009

Rio 40 graus... purgatório da beleza e do caos

De volta do Rio de Janeiro, "preciso demais desabafar", dizer que não compactuo com a idéia de chamá-lo de "cidade maravilhosa", mas que, apesar do esforço dos cariocas em piorá-lo, "o Rio de Janeiro continua lindo." Porém, o canto que entôo nesse meu retorno é mesmo o que diz "Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos", porque esse, sim, reflete o que encontrei lá.

Acho que a menor temperatura que vi os relógios de rua marcarem foi 30º... e à noite. Não vesti nada que cobrissem meus joelhos ou cotovelos. Não aguentei muito tempo sem ar condicionado, ventilador ou guarda-sol. E esse calor nos diz muito sobre o jeito carioca de ser. Carioca não gosta de trabalhar! Isso me foi dito e repetido por eles próprios, com a justificativa de que o o clima não colabora para isso. Afinal, de onde tirar ânimo para vestir uma roupa compatível com um ambiente de trabalho e pegar um ônibus até lá, sem lembrar que a praia, e sua brisa muito mais agradável, fica logo ali?!

O Rio tem, sim, as suas maravilhas - quase todas naturais. O que dizer da beleza das praias, menos belas que as de Florianópolis, mas também mais próximas da cidade?! Ou das belas vistas, que se conseguem do alto de uma pedra, como a do Arpoador, de um prédio, como os da Beira-Mar, ou de um dos cartões postais da cidade (difícil escolher entre Cristo e Pão de Açúcar!)?!

Mas o trecho da música da Fernanda Abreu que mais reflete o que vi lá o chama de "purgatório da beleza e do caos": um lugar não exatamente bom nem ruim, onde as belezas locais se chocam com as características de uma grande metrópole. É estar num cartão postal, como o calçadão de Copacabana, sentindo o cheiro de mijo, vendo pessoas se prostituindo enquanto os gringos tiram fotos do Copacabana Palace.

Alguns dirão que me decepcionei com o Rio, outros que não o compreendi como deveria. Pois o Rio de Janeiro foi mais que uma viagem turística para mim. Foi uma experiência surpreendente e, por isso mesmo, interessante. Necessária para apagar a imagem global e glamourizada que eu tinha de lá. Lugar para onde eu voltaria para ficar em Ipanema ou Leblon, os bairros mais próximos de Porto Alegre que encontrei. Afinal, é aqui "que eu vivo em paz".

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

No escurinho do cinema...

Há quem diga que ver filmes é perda de tempo, que são duas horas em vão de um dia. Já eu sou daqueles que pensam que duas horas de filme representam duas horas de vivências, experiências e aprendizados que dificilmente teríamos em apenas duas horas de vida. E, para essas últimas pessoas, não há época melhor para ir ao cinema do que esta.

Três produções que concorrem ao Oscar 2009 - duas delas em cartaz em Porto Alegre - me tocaram de alguma forma. Levando em conta que só vi três indicados ao prêmio, e que os três mexeram comigo, arrisco dizer que esta é uma boa safra.

A Troca narra a intrigante história verídica de uma mãe solteira que, após tentarem trocar o seu filho, luta contra o sistema corrupto vigente no final da década de 20. O filme concorre ao prêmio em três categorias: direção de arte, fotografia e melhor atriz. E é nesta última que se concentra a sua força. Angelina Jolie deixa de lado o papel de mulher fatal para assumir o de uma mãe recatada e aparentemente impotende que, obrigada pelos acontecimentos, se revela forte o suficiente para enfrentar todo um sistema no poder. E os absurdos a que ela é submetida nos fazem querer saltar da poltrona - embora nos acomodamos ao lembrar do quão impotente nos sentimos ante os governantes da nossa época, independente da época em vivemos.

O Leitor se encontra um pouco mais à frente, seja pela época retratada (a década de 40) ou pelo número de indicações (cinco, incluindo aí as principais categorias). O filme mostra a vida de um jovem estudante de 15 anos que se envolve com uma mulher mais velha e, anos depois, descobre que ela foi responsável por centenas de mortes de judeus durante o holocausto. O tema - holocausto - é mais do que batido. Mas, da maneira que o filme o aborda, ele chega a ser original. Ao contrário do que acontece na maioria dos filmes sobre o tema, em O Leitor somos jogados no meio do conflito: entre alguém educado, instruído, que percebe a barbárie que foi a morte de milhares de judeus; e alguém analfabeto, sem afetos, cuja vida sempre se resumiu a trabalhar para se sustentar. Pode-se considerar culpado quem por ignorância e até ingenuidade tornou possível o nazismo? Os conflitos não páram por aí. Estão também no relacionamento dos personagens, que sempre são velhos ou jovens demais; que quando estão longe se fazem presentes em pensamento constantemente. E, quando presentes, se mostram longe nos ideais, nas realidades que vivem e nas marcas da idade que carregam. No papel da bela mulher, capaz tanto de se apaixonar quanto de matar, está Kate Winslet, a favorita ao Oscar de melhor atriz, numa atuação comovente e emocionante.

E, para terminar, não poderia faltar nessa listagem o campeão de indicações: Quem quer ser um milionário?. Diferentemente de O Leitor ou A Troca, Quem quer ser um milonário? não te joga ou mostra conflito algum, apenas, uma realidade. A realidade indiana, muito além do que se vê em Caminho das Índias. Se, na novela, a realidade é a beleza das rígidas tradições do país, no filme é a daqueles que vivem na miséria e que exploram a Índia na mesma medida em que são explorados por ela. E o único ponto em comum entre ambos é a paixão que move seus protagonistas. Em muito se parece com o nosso Cidade de Deus, pela triste realidade retratada de forma bem-humorada e pelo ritmo da montagem - por sinal, a edição está entre seus pontos fortes e, não por acaso, é o preferido para ganhar o Oscar da categoria.

O carnaval está aí, mas os que não gostam da folia ou não podem curti-la, que recorram a uma sala de cinema fresquinha, com poltronas reclináveis e filmes tão complexos quanto a própria vida para entretê-los. Embora a cadeira confortável não exclua o desconforto com que se sai de alguns deles...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Com que roupa eu vou?

Atire a primeira pedra, ou melhor, escreva o primeiro comentário quem nunca (se) fez essa pergunta. E saibam, meninas, que quem primeiro a registrou - pasmem - foi um homem! Noel Rosa a escreveu em forma de música em 1930. Não é que ele sabia das coisas?!

Faço parte daquela tribo que acha que moda não é sinônimo de futilidade. Longe disso! Moda, para mim, é uma forma de se expressar: assim como falar, dançar, fotografar... É um meio de dar o seu recado, através do que você veste, com o seu estilo. Você pode dizer que é divertida, ou ter tiaras com flores protuberantes. Voce pode sambar de maneira provocante, ou vestir uma blusa decotada. Você pode clicar um detalhe em meio a uma paisagem, ou usar um lenço coloridíssimo com jeans e regata branca. E é por querer dar sempre o recado certo, que detesto errar no figurino!

Há algumas semanas, fui a uma formatura num salão de festas de condomínio. No convite, o quesito "traje" inexistia. Como saber o que vestir num evento assim? Dependendo do salão e, principalmente, da decoração, a recepção pode ser simples ou não! Fazendo uma breve pesquisa de campo, descobri que as outras pessoas também não sabiam bem o que usar. A amiga com quem eu ia sugeriu uma calça jeans, com uma blusa de paetê. Boa combinação... embora o jeans, insisti eu, entregava o pouco caso que ela fazia da festa. Optei por um macacão preto, de tecido simples e modelagem despojada.

Eis quê, chegando lá, fui recepcionada pelo formando usando uma bermuda de surf e uma camiseta de time! Sim, eu disse BERMUDA E CAMISETA!!! E olhem que, dependendo da bermuda e da camiseta, eu acharia super style! Mas, definitivamente, não era o caso. Peguei o meu banquinho, sentei no meu cantinho e, de lá, fiz questão de ir embora rapidinho. Já citei as outras convidadas? Short jeans, melissa e regata!

Poucos dias depois, um convite de formatura me surpreendeu duplamente. Primeiro, porque era de um colega que eu não via desde o colégio! Segundo, e o melhor, porque era tão pessoal quanto criativo!!! Imagine uma folha de ofício mais dura (ok, não entendo de arte como de moda) que, à medida que a vamos desdobrando, lêmos:
"Se você tem uma maçã
e eu tenho uma maçã
e nós trocamos essas maçãs
então eu e você ainda teremos uma maçã cada
Mas se você tem uma idéia
e eu tenho uma idéia
e nós trocamos essas idéias
então cada um de nós terá duas idéias".

Interessante, não?! Ao desdobrar tudo, um texto bem informal oferecia tudo o que precisávamos saber sobre a graduação. Só que, depois de um trecho mais ou menos assim "depois de trocarmos algumas idéias, nos mandamos pra noite, o que achas", fui surpreendida mais uma vez - e, dessa vez, negativamente: "roupa? a que te sentires melhor"!

Lembrei de Noel Rosa: "e eu pergunto com que roupa eu vou? Pro samba que você me convidou..."


* Esse post foi incentivado pela amiga que veste jeans e blusa de paetê e detesta a expressão "eis quê".

domingo, 11 de janeiro de 2009

Decepções

É tão clichê quanto verdadeiro dizer que todos nós nos decepcionamos, assim como decepcionamos também. O nosso primeiro ancentral que falou deve ter sido também o primeiro a dizer que "errar é humano". Mas, se é tão comum passarmos por decepções, por que elas nos atingem tanto? Por que ainda não aprendemos a lidar com elas? Por que não conseguimos prever o que e quem vai nos machucar?

Pessoas que mal conhecemos, com quem apenas compartilhamos o local de trabalho, podem nos decepcionar. Para isso, elas nem precisam se esforçar muito: basta não estarem num dia de muita inspiração para pôr abaixo todo o nosso esforço em fazer o nosso melhor. E, mesmo que elas não sejam importantes na nossa vida, vai doer em nós!

Pessoas cujas decisões em nada nos afetam, nem vão mudar a nossa vida, apenas a delas próprias, também têm esse poder. Você já se decepcionou por ver um amigo tomando um rumo errado, seja ele manter um comportamento que só o faz sofrer ou recusar uma proposta de trabalho que é seu sonho receber?

Mas nenhuma decepção pode nos machucar mais do que aquela que, além de nos atingir, parte de quem é importante para nós. De quem não valoriza a nossa amizade, como valorizamos a dela. De quem confiamos por anos e depois descobrimos não nos ser leal ou verdadeiro. De quem mostrou ter tanto poder para nos dar alegrias, quanto tristezas.

Alguns banalizam esse sentimento, o acham corriqueiro, comum, passageiro. Antes fossem! É verdade que algumas decepções passam tão logo termine a nossa TPM (ou estress, se você for homem). Mas há aquelas que transformam príncipes em sapos, fadas em bruxas.